"Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita"

Aqui está uma expressão que eu nunca percebi. Gostava de saber quem a terá inventado? O que lhe terá passado pela cabeça para deduzir que o que começa mal, tem tendência para acabar igualmente mal! Porque acredito que já todos ouvimos inúmeras vezes esta famosa expressão que quase nos faz desistir de tentar ser melhores, porque à partida, não haverá remédio. Quase que nem dá vontade de questionar, quem de um modo tão pessimista, assume que não há volta a dar. E será que não há mesmo?

Porque a verdade é que ninguém nasce perfeito nem ensinado, e apesar de na vida, toda a gente passar por várias fases, sinto muitas vezes, quando olho à minha volta, que quando não se acerta à primeira está tudo perdido. Como se as oportunidades para desenvolver e aprender se tivessem esvanecido por ali, quando os erros são por vezes os melhores professores que existem na vida, se forem bem aproveitados. São a oportunidade de recomeçar de novo.  E sim, muitas vezes, o começar de novo exige coragem, mas não será tão pior continuar na mesma, por se pensar não há remédio?

Eu acho tão emocionante quando vejo alguém assumir de verdade, que sim fez porcaria e que sim, é possível aprender com os disparates. Que no fundo todos fazemos, mesmo os mais hipócritas que dizem que não. Eu nem sempre consigo ser racional e já existiram vezes em que as emoções me impediram de ver com clareza, e não é por isso que eu vou desistir de tentar ser uma pessoa melhor. Até acho que é a partir dos recomeços que se faz o caminho para a felicidade.

Por isso sempre que ouço a expressão “Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, tendo para duvidar da veracidade da mesma, e lembro-me de uma frase de José Saramago, no livro “O Ensaio Sobre A Cegueira”, que é a seguinte: “Nunca se pode saber de antemão do que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa, e tem na mão todas as cartas do baralho, a nós compete-nos inventar os encartes com a vida”.