Metamorfose
Repara: — a imóvel crisálida
Já se agitou, inquieta,
Cedo, rasgando a mortalha,
Ressurgirá borboleta.
Que misteriosa influência
A metamorfose opera!
Um raio de sol, um sopro!
Ao passar, a vida gera.
Assim minh’alma, inda ontem
Crisálida entorpecida,
Já hoje treme, e amanhã
Voará cheia de vida.
Tu olhaste — e do letargo
Mago influxo me desperta:
Surjo ao amor, surjo à vida
À luz de uma aurora incerta.
1 de Maio de 1860 - Júlio Dinis
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