"Proxy-War" no Médio Oriente
O Médio Oriente é uma região que atualmente atravessa um
situação complicada, com guerras a decorrer e com as potencias regionais a
tentar preencher o vácuo poder. Inúmeras milícias e grupos terroristas têm
espalhado o terror e o medo. As duas potências regionais Arábia Saudita e o
Irão, têm estado sempre envolvidos nos vários conflitos, com objetivos e
metodologias contraditórias. Os dois países nunca declararam diretamente guerra
um ao outro, e em vez disso atacam-se indiretamente ao apoiarem lados opostos
em relação a outros países e incentivando conflitos, o que leva a que se
encontrem numa “proxy war”, um conflito estimulado por um país de poder em que
este não está envolvido.
Isto tem causado enormes estragos na região do Médio Oriente,
porque os países vizinhos, especialmente os mais pobres não conseguem funcionar
bem, devido à luta de interesses dentro do seu país por forças exteriores. Tanto
a Arábia Saudita como o Irão olham para estas instabilidades políticas como uma
ameaça mas também como uma oportunidade, testando a balança de poder do Médio
Oriente.
O começo desta disputa tem
origem no inicio do século XX, começando na península arábica que estava sob o
controlo do Império Otomano. O Império Otomano que já se encontrava
destabilizado devido a instabilidades políticas e económicas, e com o desfecho
da I Guerra Mundial desabou, o que levou a que as várias etnias começassem a
lutar entre si por mais poder. A tribo Al-Saud conquistou a maior parte da
península e em 1932 foram reconhecidos como o reinado da Arábia Saudita. Seis
anos depois, foram descobertos depósitos de petróleo, o que chamou a atenção
dos Estados Unidos da América que procuravam uma fonte de energia, levando à
criação de uma aliança com o mesmo gerando riqueza que serviu para fortalecer o
regime de Al-Saud, ajudando também à construção de infraestruturas, estradas e
cidades.
Do lado oriental do Golfo Pérsico, outro país estava também em
crescimento, mas com muito mais dificuldade. O Irão tinha como a Arábia Saudita
várias reservas de petróleo, mas a constante intervenção estrangeira estava a
criar problemas. Durante a sua história Irão foi invadido pela Rússia e pelo
Reino Unido e em 1953, os Estados Unidos da América e o Reino Unido
incentivaram a instabilidade política de modo a criarem um golpe de Estado,
devido à falta de cooperação entre o governo iraniano e as forças exteriores, tirando
o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh do poder, apoiando agora o monarca
Reza Shah, que de um modo autoritário queria transformar o Irão num país mais
ocidentalizado. As suas políticas levaram à corrupção do governo e para
contra-atacar a instabilidade causada pela corrupção, deu uso à polícia secreta
SAVAK para aterrorizar a população.
No inicio dos anos 70, tanto a Arábia Saudita como o Irão tinham
economias muito focadas no petróleo, com ambos os governos apoiados pelos
Estados Unidos da América. Mas Reza Shah não conseguiu controlar a sua
população de se revoltar devido às suas medidas pró-ocidentais. Em 1979 foi
deposto e Ruhollah Khomeini, instaurou uma teocracia no Irão.
Ruhollah Khomeini era clérigo muçulmano e pregava
contra as monarquias seculares apoiadas pelo Ocidente. Com a concretização do
regime teocrático oposto às monarquias, mudou o status quo do Médio Oriente, resultando isto em várias reações um pouco por
todo o mundo, mas principalmente na Arábia Saudita, que tinha receio que Ruhollah Khomeini incutisse um sentimento de
revolta no seu povo, tal como tinha feito no Irão. Para além disto havia a
ameaça religiosa, já que a Arábia Sáudita queria ser a líder do povo muçulmano,
devido a deterem de vários locais religiosos, mas Ruhollah Khomeini reivindicou
que por causa da sua revolução teocrática o Irão era agora o principal líder
dos muçulmanos.
O povo da Arábia Saudita era em grande parte sunita enquanto que
o povo do Irão era em grande parte xiita, e apesar de esta não ser uma razão de
rivalidade, era uma razão de divisão. De modo a combater a ameaça do Irão, a
Arábia Saudita reforçou a sua aliança com os Estados Unidos da América.
O aumento de poder do Irão como força regional ameaçava vários países
vizinhos. Em 1980, o Iraque, que estava sob o poder de Saddam Hussein, invadiu
o Irão, com o objetivo de parar a revolução iraniana, ganhar poder e ficar
também com algumas reservas de petróleo. Este conflito a uma dada altura e
chegou a um impasse tendo muitas baixas civis e ficando marcada pelas
trincheiras e uso de armas químicas. Quando o Irão começou a ganhar, a Arábia
Saudita entrou em pânico e decidiu intervir em defesa do Iraque, disponibilizando
armas e equipamento. Esta ajuda durou até 1988, ano do fim do conflito, mas até
aí milhões de pessoas morreram.
As intervenções do Estados Unidos da América no Iraque na década
de 90 e inicio dos anos 200 levaram à execução de Sadam Hussein em 2006. Após
isto os Estados Unidos da América não conseguiram preencher o vácuo de poder, o
que levou a que o Iraque entrasse numa guerra civil. Sem governo, milícias assumiram
o controlo do Iraque arrebatando a população. De repente, existiam milícias
sunitas e xiitas espalhadas por todo o país, sendo que muitas eram grupos
islâmicos radicais, que viram este problema como uma oportunidade de ganhar
poder montando o caos. O Irão e Arábia Saudita viram também o conflito como uma
oportunidade para ganhar mais poder, e por isso a Arábia Saudita começou a incentivar
e a investir através de armas e fundos às milícias sunitas e o Irão fez o mesmo
com as milícias xiitas. Isto durou até durante a Primavera Árabe, que se
caraterizou por uma série de conflitos e protestos anti-autoritarismo que
resvalaram pelo Médio Oriente em 2011 e também aqui o Irão e a Arábia Saudita
apoiaram diferentes lados e o conflito entre os dois países aumentava cada vez
mais.
Há medida que mais conflitos vão aparecendo no Médio Oriente,
mais a Arábia Saudita e o Irão vão fomentar a sua oposição, sendo que nenhum
dele procura uma guerra, mas estas guerras civis criaram circunstâncias que não
estavam previstas, sendo que ambos procuram defender os seus interesses
nacionais. Atualmente o Qatar tem sido ameaçado pela Arábia Saudita, porque
este estava a desenvolver uma relação cordial com o Irão. Na Síria e no Iraque,
o grupo terrorista ISIS está a perder poder o que leva a que tanto a Arábia
Saudita como o Irão queiram ter controlo do território.
Esta “proxy-war”, chegou a este ponto devido à Arábia Saudita
querer manter o seu governo autocrático e o Irão querer derrubar todas as
forças autoritárias e autocráticas do Médio Oriente. Este conflito mantem-se e
manter-se-á principalmente devido a estas forças opositoras.
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